Espaço SENAI
Missão do Sistema SENAI
Contribuir para o fortalecimento da indústria e o desenvolvimento
pleno e
sustentável do País, promovendo a educação para o trabalho e a
cidadania, a assistência técnica e tecnológica, a produção e
disseminação
de
informação e a adequação, geração e difusão de tecnologia.
Existem
três possibilidades de configurar um transistor em um circuito. O nome dado a
cada configuração é definido com base no terminal do transistor que é comum às
duas malhas do circuito. Dessa forma, três configurações são possíveis:
Configuração emissor comum: o terminal do emissor é
comum às duas malhas do circuito, como mostrado na Fig.1a.
Configuração base comum: o terminal da base do
transistor é comum às duas malhas do circuito, como ilustrado na Fig.1b.
Configuração coletor comum: o terminal do coletor é
comum às duas malhas do circuito, como na Fig.1c.
Curvas
características
O
comportamento de um componente eletrônico pode ser obtido aplicando-se uma
tensão entre seus terminais, e medindo-se a corrente através do componente.
Dessa forma geram-se pares de valores de corrente e de tensão que podem ser
representados graficamente através da curva característica do dispositivo.
No
diodo semicondutor, por exemplo, a corrente depende do valor e da polaridade da
tensão aplicada aos seus terminais, conforme mostrado na Fig.2
O comportamento do
transistor também é expresso através de curvas características. Estas são
obtidas através de medidas elétricas sob condições controladas de tensão e de
corrente.
O emprego das curvas
características do transistor é de grande importância no projeto de circuitos,
pois permite obter o comportamento do componente em uma ampla faixa de
condições de operação.
PARÂMETROS DAS CURVAS CARACTERÍSTICAS
Nos componentes
semicondutores com apenas dois terminais, a tensão entre terminais e a corrente
através do componente são utilizados na representação gráfica da curva
característica.
Como o transistor é um
componente de três terminais, cada par de terminais está associado a uma
corrente e uma tensão. Dessa forma, podem-se em princípio utilizar os seis
parâmetros definidos a seguir para representar as propriedades do transistor:
·
IB = corrente de base.
·
IC = corrente de coletor.
·
IE = corrente de emissor.
·
VCB = tensão coletor-base.
·
VCE = tensão coletor-emissor.
·
VBE = tensão base-emissor.
Os seis parâmetros
representativos do transistor estão mostrados na Fig.3. Alguns desses parâmetros juntamente com outros não
elétricos, tais como temperatura, podem
ser utilizados em uma série de curvas características que expressam o
comportamento do transistor nas mais diversas condições de operação.
CURVAS CARACTERÍSTICAS NA CONFIGURAÇÃO EMISSOR COMUM
O tipo de ligação mais
utilizado em circuitos transistorizados é a configuração emissor comum,
mostrada na Fig.4. As curvas
características dos transistores, fornecidas pelos fabricantes, geralmente se
referem a esse tipo de configuração.
Analisando a Fig.4, verifica-se que, na configuração
emissor comum, apenas quatro parâmetros são suficientes para descrever o
comportamento do transistor. Uma escolha possível corresponde aos parâmetros, VBE, IB, VCE e IC. Uma vez conhecidos esses quatro parâmetros os
dois restantes podem ser obtidos utilizando as leis de Kirchhoff.
Com essa escolha, os
parâmetros VBE e IB são
denominados de parâmetros de entrada
com VCE e IC representando os parâmetros de saída.
Portanto, para representar
graficamente o comportamento do transistor na configuração emissor comum são
necessários dois conjuntos de curvas características:
·
Uma curva que expressa a relação entre os parâmetros de entrada,
denominada de curva característica de
entrada.
·
Um conjunto de curvas que expressam as relações entre os parâmetros de
saída, denominadas de curvas
características de saída.
CURVAS CARACTERÍSTICAS DE SAÍDA
A influência da corrente de
base na corrente de emissor torna maior a importância das curvas
características de saída na representação das propriedades elétricas do
transistor. Essas curvas características são também denominadas de curvas características do coletor.
Sabendo que para cada valor
do parâmetro VCE a
corrente IC é dependente do
valor da corrente IB, cada
curva característica de saída é construída de forma a representar graficamente
a relação entre IC e VCE para um determinado valor
de IB. A Fig.5 mostra as curvas características de saída típicas de um
transistor npn.
Cada curva representada na Fig.5 mostra a dependência da corrente
de coletor IC com a tensão coletor-emissor VCE, para um determinado
valor fixo da corrente de base. Em folhetos de especificações técnicas, o topo
do gráfico indica que IC é uma função de VCE para cada valor fixo
de IB,
através da representação:
IC=f(VCE) , IB = parâmetro
|
Deve-se observar que, de
acordo com a convenção adotada para representação das correntes e tensões em um
transistor, nos transistores pnp os
parâmetros IB, IC e VCE
são negativos pois em condições normais de operação, o coletor é polarizado
negativamente em relação ao emissor e as correntes de coletor e de base fluem
dos terminais do transistor para as malhas do circuito, conforme mostrado na Fig.6.
Dessa forma, as curvas características de saída para transistores pnp são representações gráficas de (-IC) ´ (-VCE) para cada valor de (-IB), como mostrado na Fig.7.
Outro aspecto de importância
no que se refere às curvas características fornecidas pelos fabricantes é que
essas curvas representam o comportamento médio de um grande número de
transistores de mesma especificação. Isso significa que, na prática, as propriedades
elétricas do componente podem apresentar
pequenos desvios em relação ao comportamento previsto pelas curvas
características.
As curvas características
fornecidas pelo fabricante representam o comportamento médio de um grupo de
componentes de mesma especificação.
UTILIZAÇÃO DAS CURVAS CARACTERÍSTICAS DE SAÍDA
Com o uso das curvas
características é possível determinar as condições de operação de um transistor
em um circuito. Isso é feito
utilizando-se o conceito de reta de
carga, examinado a seguir.
Reta de carga
Para o caso de um transistor
npn conectado ao circuito mostrado na
Fig.8, aplicando-se a 2 a.
Lei de Kirchhoff à malha de coletor tem-se que
ou alternativamente
Para valores fixos dos
parâmetros VCC e RC,
a Eq.(2) representa uma relação
linear entre a tensão coletor-emissor VCE
e a corrente de coletor IC.
Fig.8 Circuito com transistor npn na configuração emissor comum.
A relação entre VCE e IC expressa pela Eq.(2)
é representada graficamente por um segmento de reta em um diagrama IC´VCE. Esse segmento de reta,
denominado de reta de carga, pode
ser traçado conhecendo-se apenas dois de seus pontos. Estes são obtidos
diretamente da Eq.(2), observando-se
que:
·
Interseção com o eixo
horizontal Þ IC = 0 Þ VCE = VCC .
·
Interseção com o eixo
vertical Þ VCE = 0 Þ
A Fig.9 mostra a representação gráfica da
reta de carga prevista pela Eq.(2),
e que corresponde à linha traçada entre os pontos de interseção com os dois
eixos do gráfico.
Fig.9 Reta de carga representada
no diagrama IC ´ VCE.
Para o
circuito da Fig.8, duas condições de operação definem os
pontos de interseção da reta de carga com os eixos na Fig.9:
·
Condição de corte.
·
Condição de saturação.
Condição de corte
A condição de corte ocorre
quando a corrente de base no transistor é nula.
A partir da relação entre correntes já derivada anteriormente,
Desprezando-se a corrente de
fuga no coletor, a condição IB=0
fornece IC=0 que define o ponto de corte mostrado na Fig.9.
Condição de saturação
A condição de saturação
ocorre quando a corrente de base é suficientemente alta de forma a anular a
tensão coletor-emissor. Dessa forma, impondo VCE = 0 na Eq.(2)
resulta que corresponde ao ponto de saturação mostrado na Fig.9.
Essa situação equivale à existência de um curto entre os terminais do
coletor e do emissor no circuito da Fig.8,
de forma que toda a tensão da fonte de alimentação se transfere diretamente
para o resistor de coletor.
Ponto de operação
Uma vez traçada a reta de
carga pode-se determinar graficamente os valores de VCE e de IC,
para um dado valor da corrente de base IB
na configuração emissor comum.
O procedimento gráfico pode
ser descrito com base no circuito mostrado na Fig.10a, onde admite-se que a corrente de base esteja estabelecida
em um valor IB = IBQ. A Fig.10b mostra as curvas características de saída que incluem
aquela referente ao valor IB
= IBQ.
(a)
|
(b)
|
Fig.10 Circuito e curvas
características de saída de um circuito transistorizado na configuração emissor
comum.
Como
se pode verificar na Fig.10b,
qualquer ponto sobre a curva característica pode ser utilizado para representar
os valores da corrente de coletor e da tensão coletor-emissor no circuito da Fig.10a. A questão portanto a se
considerar é a seguinte:
Conhecidos os
valores de VCC e RC no circuito da Fig.10a,
quais são os valores resultantes da corrente de coletor e da tensão
coletor-emissor?
A resposta a essa questão só
pode ser obtida se for utilizada mais uma informação. Esta informação adicional
é fornecida pela reta de carga do circuito, incorporada ao gráfico das
características de saída, conforme ilustrado na Fig.11.
Ou seja, da mesma forma que
os valores de corrente e tensão para o circuito definem algum ponto na curva
característica, a solução deve também estar em algum ponto da reta de carga. Só
existe portanto um ponto que pode existir simultaneamente na reta de carga e na
curva característica correspondente a uma corrente de base IBQ. Esse ponto, mostrado na Fig.11, é o ponto de
operação ou ponto quiescente Q.
Fig.11 Determinação gráfica do
ponto quiescente de um circuito transistorizado.
Determinado o ponto
quiescente do circuito, obtêm-se diretamente do gráfico os valores quiescentes
da corrente de coletor e da tensão coletor-emissor, representados pelos
parâmetros ICQ e VCEQ, respectivamente. A queda de tensão sobre o resistor de coletor
no ponto quiescente fica assim determinada pela expressão
O exemplo seguinte ilustra o cálculo numérico do
ponto quiescente de um circuito transistorizado.
Exemplo1: O
circuito mostrado na Fig.12 utiliza
um transistor BC146. Para uma corrente de base de 100mA determinar os parâmetros IC, VCE e VRc.
As
curvas características do transistor BC146 estão representadas no gráfico da Fig.12(b), juntamente com a reta de
carga do circuito. A interseção da reta
de carga com a curva correspondente a uma corrente de base de 100 mA ocorre no ponto quiescente Q. Como pode ser aí observado, os
valores de corrente e tensão são,
A
tensão no resistor de coletor é obtida da Eq.(4),
resultando em
(a)
|
(b)
|
Fig.12 (a) Circuito transistorizado referente ao Exemplo 1. (b) Curvas
características do transistor BC146 e reta de carga do circuito.
CURVA DE DISSIPAÇÃO MÁXIMA
Utilizando o valor da
potência de dissipação máxima do transistor, pode-se definir, no diagrama das
curvas características de saída, as faixas de valores de corrente de coletor e
de tensão coletor-emissor que assegurem a operação do transistor dentro de seus
limites de dissipação de potência.
Como já discutido no
fascículo anterior, a potência de dissipação máxima do transistor é dada
aproximadamente pela expressão
A
relação dada pela Eq.(5) pode também
ser escrita na forma
A Eq.(6) estabelece a dependência da corrente de coletor com a tensão
coletor-emissor para um dado valor da potência de dissipação máxima. Dessa
forma, conhecido o valor de PC,máx,
fornecido pelo fabricante, e atribuindo-se valores ao parâmetro VCE, os valores
correspondentes de IC
podem ser calculados da Eq.(6).
Por exemplo, considerando o
caso do transistor BC547 com a especificação PC,máx = 500mW a 25ºC, tem-se
Utilizando o conjunto de
valores de VCE listados na
2a. coluna da Tabela 1, obtêm-se os valores de IC da 3a. coluna
daquela tabela.
Tabela 1 Alguns valores
de VCE e IC correspondentes à
dissipação máxima de 500 mW no transistor BC547.
Ponto
|
VCE
|
IC
|
1
|
5 V
|
0,1A = 100 mA
|
2
|
10 V
|
0,05 A = 50 mA
|
3
|
20 V
|
0,025 A = 25 mA
|
4
|
40 V
|
0,0125 A = 12,5 mA
|
Representando-se os quatro pontos no diagrama IC ´ VCE, obtém-se o gráfico mostrado na Fig.13. A curva que passa pelos quatro pontos é a representação
gráfica da relação entre os parâmetros IC
e VCE, definida pela Eq.(7).
A curva de dissipação máxima
do transistor define o limite entre duas regiões, indicadas na Fig.14. A região localizada acima da
curva de dissipação máxima representa a
região de dissipação excessiva do transistor, pois os valores de VCE e IC naquela região fornecem uma potência de dissipação
superior à potência de dissipação máxima do componente.
A região abaixo da curva
representa a região de funcionamento
normal do componente, pois valores de VCE
e IC no interior dessa
região correspondem a uma potência de dissipação inferior à potência de
dissipação máxima do transistor.
Para operação do componente
a temperaturas diferentes de 25 °C, deve-se utilizar a
potência de dissipação máxima na temperatura de trabalho para então calcular a
curva de dissipação máxima a partir da Eq.(6).
LIMITAÇÃO DA DISSIPAÇÃO DE POTÊNCIA SOBRE A RETA DE CARGA
A reta de carga expressa todas as possibilidades de
funcionamento de um transistor para um determinado valor do resistor de coletor
e da tensão de alimentação. Como a curva de dissipação máxima estabelece o
limite da região de funcionamento normal do transistor, faz-se necessário que a
reta de carga esteja sempre situada abaixo daquela curva.
A Fig.15a representa o trecho de um circuito alimentando um
transistor npn BC547 na configuração
emissor comum. Na Fig.15b está
traçada a curva de dissipação máxima de 500 mW referente a uma temperatura de
25ºC. No mesmo gráfico estão representadas as retas de carga obtidas
atribuindo-se para VCC os
valores de 40 V e 30 V, respectivamente, com
RC fixado em 500 W em ambos os casos.
(a)
|
(b)
|
Fig.15 (a)Transistor na configuração
emissor comum. (b)Curva de
dissipação máxima e retas de carga: A(VCC=40 V, RC=500 W), B (VCC=30 V, RC=500
W).
Observa-se na Fig.15b que a reta de carga B está situada totalmente abaixo da
curva de dissipação máxima do transistor. Dessa forma, qualquer valor de
corrente de base pode ser utilizado no circuito da Fig.15a sem que a potência de dissipação máxima do componente seja
superada.
Por outro lado,
examinando-se a reta de carga A da Fig.15b, observa-se que sobre o trecho
entre os pontos P1 e P2 a potência dissipada
supera o valor máximo definido pela curva de dissipação máxima do
componente. Dessa forma, os parâmetros
de circuito referentes à curva A não
possibilitariam a operação segura do componente para um valor arbitrário da
corrente de base.