quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Erros comuns no uso do multímetro

Os multímetros são instrumentos de grande utilidade na bancada do eletrônico, podendo servir para praticamente qualquer tipo de teste em circuitos e componentes. No entanto, o leitor precisará estar atento para não cometer erros comuns na sua utilização, que podem levar a conclusões erradas sobre o estado de um componente ou circuito ou até danificar de modo irreversível seu precioso multímetro.

Newton C. Braga



Os multímetros são instrumentos delicados e também precisos. O uso indevido pode levar a duas conseqüências bastante desagradáveis para os seus possuidores: o multímetro poderá queimar ou sofrer danos irreparáveis, ou ainda as indicações que ele dará poderão ser afetadas e portanto, ser imprecisas ou totalmente erradas.

Assim, damos a seguir alguns erros comuns na utilização do multímetros com suas conseqüências:

Medir corrente em lugar de tensão

Muitas pessoas que julgam entender muito de Eletrônica confundem corrente com tensão e aí está o grande perigo!

Em uma tomada de energia não existe corrente. O que existe é tensão. A corrente só vai circular quando alguma coisa for ligada a essa tomada e ela a alimentar. Essa
corrente irá depender da resistência que o dispositivo alimentado apresentar.

Desse modo, o que se mede numa tomada é a tensão. Se o “técnico” for medir a corrente (que não existe), o multímetro será colocado em uma condição de muito baixa resistência, ou seja, ele será um curto-circuito!

O resultado é óbvio. Ao ser ligado na tomada, a corrente circulante será extremamente alta causando sua queima imediata.

Em suma, se você tiver amor ao seu (caro) multímetro, nunca tente medir “correntes” de fontes de alimentação de qualquer tipo...


Medir resistências em um circuito ligado

Medir a resistência de um componente de um circuito ligado pode ter duas conseqüências. A primeira é que, certamente, a corrente no circuito vai afetar a leitura e o valor da resistência lido não corresponderá à realidade.

A segunda, mais perigosa, é que a corrente circulante no circuito pode causar danos no multímetro.

Utilizar escalas erradas

Muito cuidado para não medir tensões com o multímetro ajustado para a escala de correntes ou de resistências. A tensão pode ser suficiente para causar danos ao instrumento.

Nunca mude de escala com as pontas de prova no circuito. Desligue-as sempre, antes de escolher uma nova escala.

Evidentemente, isso não é válido para os instrumentos que possuam comutação automática de escala.

Não observar a impedância do circuito e a sensibilidade do instrumento

Muitas vezes o profissional é levado a medir a tensão em um circuito que apresenta uma impedância muito alta (circuitos de altas resistências como polarização de transistores). Se o multímetro tiver pequena sensibilidade, ele afetará a tensão no circuito e o valor lido será muito menor que o real.


Um caso comum é apresentado na figura 1, em que se tenta medir a alta tensão de um multiplicador com um multímetro comum.
 




Figura 1 - Alta tensão de um multiplicador

A tensão em aberto do circuito supera os 600 V, mas ao conectar o multímetro, a tensão cai para menos de 50 V, e esse será o valor lido.

Não levar em conta as características particulares do circuito medido

Isso pode acontecer, por exemplo, quando se mede a resistência de um circuito que tenha um diodo ligado em série, atente para a figura 2.



Figura 2- Falsa leitura de resistência


Os diodos não são componentes ideais que apresentem sempre uma resistência muito baixa quando polarizados no sentido direto. Quando polarizados com a baixa tensão aplicada por um multímetro comum, sua resistência pode ser de centenas ou mesmo milhares de ohms. Assim, no circuito mostrado não medimos apenas a resistência do resistor em série, mas também essa resistência, com uma “falsa” indicação de que o resistor possa estar aberto.

O mesmo ocorre se existir qualquer outro tipo de junção no circuito, mesmo que polarizada no sentido direto, veja a figura 3.



Figura 3 - Falsa leitura de resistência

Componentes não lineares


Um outro erro muito comum é julgar que a resistência medida em um componente deve ser aquela que calculamos quando ele está em funcionamento normal. É o caso de uma lâmpada incandescente que consiste em um dipolo não linear, conforme mostra a sua curva característica na figura 4.
 



Figura 4 - Curvas características

Se temos uma lâmpada de 12 V x 0,5 A, a sua resistência em funcionamento normal pode ser calculada como 12/0,5 = 24 ohms. No entanto, se formos medir essa resistência com um multímetro, exemplo na figura 5, poderemos ter a surpresa de encontrar um valor muito menor.




Figura 5 - Resistência da lâmpada


Isso acontece porque “a frio”, o filamento se encontra contraído e sua resistência é muito menor. Outros componentes que têm suas potências especificadas para o funcionamento normal, tais como os elementos de aquecimento também apresentam o mesmo comportamento. A resistência medida a frio não é mesma que ele apresenta em funcionamento normal. Até mesmo resistores de fio que operam numa temperatura mais elevada têm esse comportamento, que deve ser levado em conta ao se medir sua resistência com um multímetro.

Conclusão

Alguns pequenos cuidados ao se usar o multímetro e a observação de que podemos estar sendo enganados pelo modo como uma medida é feita, nos garantirão um bom uso para esse instrumento.

Fazendo as coisas certas, você não apenas garante que as medidas realizadas são confiáveis, mas também que o seu multímetro nunca seja danificado por um erro grave.

*Artigo originalmente publicado na revista Eletrônica Total Ano 18 - Número 122 Março/Abril 2007

Um comentário:

  1. O multímetro é, com certeza, um dos melhores e também mais problemáticos parceiros dos fanáticos em eletrônica. Ótimo artigo, por ter reunido diversos tópicos consideráveis de métodos de medições.

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