Missão do
Sistema SENAI
Contribuir para o fortalecimento da indústria e o desenvolvimento
pleno e
sustentável do País, promovendo a educação para o trabalho e a
cidadania, a assistência técnica e tecnológica, a produção e
disseminação
de informação e a adequação, geração e
difusão de tecnologia.
Os circuitos retificadores de meia onda e onda
completa fornecem uma tensão de saída consistindo em uma série de pulsos de
mesmo sinal produzindo, assim, um fluxo
de corrente unidirecional através da carga. No entanto, muitos equipamentos de
corrente contínua necessitam de uma alimentação cuja variação no tempo seja tão
pequena quanto possível. Para eliminar essa limitação, adiciona-se um filtro na
saída do circuito retificador comum, como forma de minimizar as variações no
tempo dos níveis da tensão e da corrente de saída.
Filtros em fontes de alimentação
A tensão contínua pura se caracteriza por ter uma única polaridade e por um valor que não varia ao longo do tempo, como mostrado no gráfico da Fig.1.
A tensão de saída produzida pelos circuitos retificadores, tanto de meia
onda como de onda completa, toma a forma de uma série de pulsos. A Fig.2 mostra esse tipo de tensão de
saída para o caso do retificador de onda completa. Como pode ser aí observado, embora os pulsos
de tensão sejam de mesma polaridade, existe uma variação no tempo do valor da
tensão de saída.
Salvo em algumas situações,
como por exemplo na saída dos carregadores de bateria convencionais, a tensão
pulsada fornecida pelos circuitos retificadores comuns não é apropriada para
uso em circuitos mais sofisticados cuja operação demanda um alto grau de pureza
na tensão contínua de alimentação.
Essa deficiência presente
no retificador comum é resolvida pelo emprego de um filtro conectado entre a
saída do retificador e a carga, conforme ilustrado na Fig.3. O filtro atua no sentido de aproximar a tensão na carga,
tanto quanto possível, da tensão contínua ideal, de valor constante como
mostrado no gráfico da Fig.1.
O CAPACITOR COMO ELEMENTO DE FILTRAGEM
A capacidade de
armazenamento de energia elétrica dos capacitores pode ser utilizada como
recurso para realizar um processo de filtragem na tensão de saída de um
circuito retificador. Essa filtragem é realizada conectando-se o capacitor
diretamente nos terminais de saída do circuito retificador, como
mostrado nos dois diagramas da Fig.4.
Considere, por exemplo, a operação do retificador de meia onda com
capacitor de saída. Nos intervalos de tempo em que o diodo entra em regime de
condução, uma parte da corrente flui através da carga com a parte restante
fluindo para o capacitor, como mostrado na Fig.5.
Nesses intervalos de tempo,
carga elétrica é transferida da armadura conectada ao cátodo do diodo para a
segunda armadura do capacitor.
Nos intervalos de tempo em
que o diodo opera no regime de bloqueio, o capacitor inicia o processo de
transferência da carga elétrica da armadura negativa para a positiva. Com o
circuito retificador em bloqueio, não é possível a ocorrência de um fluxo de
corrente através do circuito retificador. Conseqüentemente, a corrente
produzida pela descarga do capacitor flui através do resistor de carga,
conforme ilustrado na Fig.6.
Por estar em paralelo com o capacitor, o resistor de carga fica sempre
submetido à mesma diferença de potencial existente entre as armaduras do
capacitor. À medida que ocorre a
descarga do capacitor, a diferença de potencial entre as armaduras diminui,
como mostrado na Fig.7.
Esse processo de descarga
continua até o momento em que a tensão na entrada atinge um valor V1 suficiente para colocar o
diodo novamente no regime de condução, como mostrado na Fig.8. Este valor V1 é exatamente igual à
tensão no capacitor após um certo intervalo de tempo de descarga. A partir
desse instante de tempo, o ânodo do diodo torna-se positivo em relação ao
cátodo, e a carga elétrica armazenada na armadura positiva do capacitor
começa novamente a aumentar.
Observando-se o gráfico da Fig.8, nota-se que o diodo permanece em
condução até o instante em que a tensão de entrada atinge o valor máximo Vmáx. Dessa forma, a
colocação do capacitor permite que a tensão de saída, embora variável,
permaneça sempre próxima ao valor máximo Vmáx,
obtendo-se efetivamente um aumento no valor médio da tensão de saída.
O aumento no valor médio da
tensão no resistor de carga pode ser observado comparando-se os gráficos das
tensões de saída do circuito retificador com e sem filtro capacitivo, conforme
ilustrado na Fig.9.
TENSÃO DE ONDULAÇÃO
O capacitor na saída do
circuito retificador sofre sucessivos processos de carga e descarga. Nos
períodos de condução do diodo o capacitor sofre carga e sua tensão aumenta,
enquanto nos períodos de bloqueio o capacitor descarrega e sua tensão diminui.
Os intervalos de tempo t1 e t2 indicados na Fig.10
definem as durações dos processos de carga e descarga, respectivamente.
Como se pode observar no gráfico da Fig.11,
a tensão de saída não assume o valor constante característico de uma tensão
puramente contínua, variando no tempo entre os valores extremos V1 e Vmáx. Essa variação na tensão de saída é denominada de ondulação,
termo derivado do inglês ripple.
A diferença entre os valores
Vmáx e V1 é definida como a tensão de ondulação Vond. Este parâmetro, definido no gráfico da Fig.12, assume a expressão matemática,
Vond = Vmáx - V1
A tensão de ondulação de uma
fonte retificada é uma medida da componente alternada presente na
saída da fonte. O valor dessa componente alternada serve como parâmetro de
avaliação da qualidade de um circuito retificador.
FATORES QUE INFLUENCIAM A ONDULAÇÃO
A ondulação na saída de um
circuito retificador depende fundamentalmente dos três fatores descritos a
seguir.
Capacidade de armazenamento do capacitor
A capacidade de
armazenamento de um capacitor é proporcional ao valor de sua capacitância. Fixado o valor da
resistência de carga, um maior valor da capacitância implica um processo de
descarga mais lento e, conseqüentemente, uma menor tensão de ondulação.
Resistência de carga
Quanto maior for o valor da resistência de carga,
menor será a corrente suprida pelo capacitor durante o processo de descarga.
Dessa forma, a carga elétrica armazenada na armadura positiva do capacitor
diminui mais lentamente na descarga, resultando em uma menor tensão de
ondulação.
Tipo de circuito retificador
Fixados os valores da
resistência de carga e da capacitância do circuito retificador, a tensão de
ondulação fica dependente apenas do tipo de circuito retificador. Como mostrado na Fig.13, no circuito retificador de onda completa o capacitor é
carregado duas vezes a cada ciclo da tensão de entrada. Esse tipo de circuito
opera, portanto, com a metade do tempo do retificador de meia onda, exibindo
assim uma menor tensão de ondulação.
A tensão média Vcc no capacitor de saída de um circuito retificador
de onda completa ou de meia onda pode ser calculada a partir da expressão
e Vond é a tensão de ondulação já definida
anteriormente.
Na
ausência de um resistor de carga, ou equivalentemente com a saída em aberto, o
capacitor nunca descarrega. Nessas
condições, Vond = 0 e da Eq.(2), tem-se que
A tensão de saída nesse caso assume a forma mostrada no gráfico da Fig.14, tanto para o retificador de
onda completa quanto para o de meia onda.
O exemplo seguinte ilustra o
comportamento da tensão de saída de um circuito retificador de meia onda com
filtro como função do resistor de carga.
Exemplo 1: Analisar o comportamento
de um circuito retificador de meia onda: (a) Na ausência de um resistor de
carga e (b) na presença de um resistor de carga que provoque uma tensão de
ondulação de 3V.
Com base na Fig.15, na
ausência de um resistor de carga, a tensão de saída é constante, sendo dada por
Esse comportamento pode ser
observado conectando-se um osciloscópio em modo dc na saída da fonte retificadora. A forma de onda observada seria
constante conforme mostrado na Fig.16.
A tensão cc na
saída diminui portanto de 1,5 V devido à presença do resistor de carga.
A forma de onda da saída,
observada na tela do osciloscópio, operando em modo dc, seria aquela mostrada na Fig.18.
OBSERVAÇÃO DA ONDULAÇÃO COM OSCILOSCÓPIO
A ondulação é uma componente
alternada presente na tensão de saída de uma fonte retificadora com filtro
capacitivo conectado a um resistor de carga. Em situações de interesse prático,
o valor da tensão de ondulação é normalmente inferior a 10% do valor Vcc. Com esse valor reduzido,
torna-se difícil a medição precisa da tensão de ondulação por intermédio de um
osciloscópio que esteja operando em modo dc.
Para obter uma medida
precisa do parâmetro Vond,
deve-se utilizar o osciloscópio no modo ac,
pois elimina-se a componente cc na
saída da fonte retificadora, possibilitando que apenas a componente alternada
seja visualizada na tela do osciloscópio.
A Fig.19 ilustra o que se observa na tela de um osciloscópio
conectado à saída de uma fonte retificadora com filtro capacitivo operando nos
modos dc e ac. Note-se que para operação no modo ac, o ganho vertical pode ser aumentado de forma a permitir uma
caracterização precisa da ondulação da fonte retificadora.
ESPECIFICAÇÃO DO FILTRO CAPACITIVO
De acordo com a Eq.(2), a tensão no capacitor de saída
de uma fonte retificadora depende da tensão de ondulação. Esta, por sua vez,
depende do tipo de circuito retificador, do valor da capacitância do filtro e
do resistor de carga ou equivalentemente da corrente na carga. Essa dependência
torna difícil a obtenção de uma expressão exata que possibilite a determinação
da capacitância do filtro para operação em um valor Vcc pré-especificado.
Entretanto, devido à grande
tolerância nos valores de capacitância dos capacitores eletrolíticos, que pode
chegar a 50% do valor nominal, pode-se formular uma expressão simplificada para
obtenção de um valor adequado da capacitância do filtro. Essa expressão pode ser utilizada no projeto
do filtro capacitivo, sem introduzir erro significativo em situações em que a
tensão de ondulação seja inferior a 20% do valor Vcc . Nessas condições, a capacitância do filtro pode
ser obtida da expressão
A seguir são apresentados
dois exemplos de dimensionamento do filtro capacitivo com o emprego da Eq.(4).
Exemplo 2: Deseja-se montar uma fonte
retificadora de meia onda com tensão de saída de 12V, corrente de 150mA, e com
ondulação de 2V. Assumindo a freqüência da rede elétrica de 60 Hz, determinar a
capacitância.
Utilizando T = 16,6 ms, Imáx = 150 mA e Vond = 2 V, o uso da Eq.(4) fornece
Exemplo 3: Repetir o Exemplo 2 para o caso de um circuito de
onda completa.
Neste caso, utiliza-se na Eq.(4) o valor T = 8,33 ms, que fornece
Ao se projetar uma fonte retificadora, além do valor da capacitância do
filtro, deve-se, também, especificar sua tensão de isolação. A tensão de
isolação deve ser sempre superior ao maior valor da tensão de operação do
capacitor.
FILTRO CAPACITIVO IDEAL
O filtro capacitivo ideal
seria aquele que possibilitasse a obtenção de uma tensão de saída não ondulada.
Certamente este tipo de capacitor deveria exibir uma capacidade de
armazenamento de carga elétrica elevadíssima para poder manter a tensão de
saída absolutamente constante. Nota-se,
portanto, que a utilização prática de um filtro capacitivo que produza pequena
ondulação na saída requer uma certa ponderação.
Na prática, os filtros
capacitivos normalmente utilizados na construção de fontes retificadoras são do
tipo eletrolítico, pois esse tipo de filtro apresenta um alto valor de
capacitância por unidade de volume.
Vale também observar que, se
a tensão de ondulação de uma fonte retificadora é elevada demais para
alimentação de um determinado equipamento, utilizam-se normalmente circuitos
eletrônicos destinados especificamente à regulação da tensão de alimentação,
evitando, assim, a necessidade de alteração do filtro capacitivo.